Angola deve valorizar línguas maternas em risco de extinção
Inglês e Francês são hoje vistos como línguas profissionais. As academias escolares em Cabinda, por exemplo, são os verdadeiros promotores no ensino dessas duas línguas, contrariamente ao ensino das línguas maternas, que segundo muitos já deveria ter sido implementado faz tempo.
Em declarações à DW, o académico e investigador Raul Taty entende que a aprendizagem das línguas nacionais ou maternas deveria tornar-se uma exigência dos tempos actuais, uma condição imprescindível para a afirmação da identidade cultural.
“A nossa língua está em vias de extinção, porque a nova geração já não fala. Isto é uma grande preocupação. Um povo que perde as suas raízes se o sistema de ensino não promove o estudo das línguas nacionais estamos a pecar. E hoje está na moda, se não falas inglês és considerado de analfabeto”, afirma.
Há quem defenda que um povo sem cultura é um povo sem identidade. Marcos Conde, professor de História, entende que a globalização ganha força e vai contribuindo para a desvalorização das línguas nacionais em Angola.
“Um povo que desvaloriza a sua própria cultura é um povo sem direção que não sabe onde quer ir. A nossa cultura é essencial e sempre devemos valorizar independentemente de onde estivermos”, sublinha.
Um alerta lançado no Dia Internacional da Língua Materna, que é comemorado hoje, conforme proclamado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Falar ibinda é cada vez mais difícil
Cabinda tem características culturais bastante marcantes e, entre elas, está a língua local, o ibinda. Mas falar ibinda torna-se cada vez mais difícil devido à chegada massiva de estrangeiros à província, oriundos principalmente da República Democrática do Congo e da República do Congo.
Segundo André Ernesto, representante do governo local, para tentar encontrar uma solução há uma série de instruções que já estão sendo levadas a cabo. “Estamos a incentivar as igrejas durante cultos e missas a transmitirem em língua materna (ibinda) ou mesmo o Português nas pregações e homilias”, revelou em entrevista à DW.
De acordo com estudos, Angola possui uma grande diversidade de línguas de matriz africana, catalogadas como línguas nacionais, que coabitam com o Português, falado por 71% da população, seguindo-se o Umbundo, a segunda língua mais falada em todo o território, que representa 23%.
Seguem-se as línguas Kikongo, com 8,3%, e Kimbundu, com 7,8% de falantes, enquanto Côkwe, Nganguela, Nyaneka, Fiote, Osshikwanyama, Luvale e Muhumbi aparecem com percentagens variáveis, na ordem dos 3 e 1%, conforme os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
No âmbito das políticas linguísticas do Governo angolano, pretende-se instituir o ensino de línguas nacionais no subsistema de educação. O académico Lopes António esclarece que a responsabilidade de ajudar a manter as línguas nacionais vivas é também dos escritores.
“Compreendemos melhor a dinâmica das nossas sociedades que compõem os nossos países. Temos o português, que é a língua oficial, mas há esta necessidade destes e outros escreverem em línguas nacionais até livros infantis para despertar de muito cedo disse.”
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